sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dance of days - disco preto (8 faixas)




"Mantendo o espirito de ser às avessas, numa época onde a cena independente (e mainstream) mais parece um arco-iris da Disney, o Dance of Days chega com seu disco preto. Se nos 80 Clemente disse que ia "pintar de negro a asa branca", o Dance em 2010 vem pra pintar de preto os coloridos e relembrar/ensinar à toda uma geração de onde viemos e do que estamos realmente falando.
Em 13 faixas o "disco preto" do DOD vem rechado de (auto) referências, e mais do que nunca, podemos afirmar sem medo, que é seu trabalho mais agressivo, talvez até mais que o cultuado "Coração De Tróia" (2002).
Abrindo o disco temos "Colheita Maldita", com 45 segundos de duração e o tom hardcore/punk que permeia todo o disco. E mesmo aqui as referências começam, com a frase "O coração de tróia entrou e explodiu: É hora de infestar".
A segunda faixa é o primeiro single do álbum, "Esta É A Hora De Uma Nova Partida", canção que conta com participação do Kalota (Self Conviction/O Inimigo/B.U.S.H.). De letra, e principalmente, espirito emblemático, unindo dois ícones de uma época - e que hoje andam por caminhos diferentes - clamando pela mesma mudança/recomeço. "Esta é a hora..." é a música que mais representa essa busca pelas raízes e própria história da banda e da cena que nos cerca.
O clima hardcore segue com "Estorvo" - faixa mais melódica 80s, algo meio Dag Nasty, com a mesma temática das musicas anteriores; aliás é importante dizer que todo o CD segue este espirito de retomada, de volta ao básico, a idéia de que todo aquele espirito de cena ainda pode ser - e deve - ser vivido.
"Mova", quarta faixa, mantém o hc/punk, com passagem rápida e refrão cadenciado à la 80s BRpunk, seguida por "Falo Sério, Não Nasci Para O Tédio", de melodia um pouco mais tranquila, lembrando as músicas do disco "Lírios Aos Anjos", e na letra, a referencia: "Os dias vão dançar".
"E Livrasse A Todos Que, Pelo Pavor Da Morte, Estavam Sujeitos A Escravidão Por Toda Vida", música seguinte, é daquelas pique "god free youth", ateismo e negação no mesmo espirito de "Vinde A Mim" do "A História Não Tem Fim", mas ainda mais direta e doentia (musicalmente falando).
Chegando na metade do álbum temos "Corona Australis", música que já fora lançada como single anteriormente, mas aqui com nova gravação, ainda mais pesada, e com a mesma genial letra recheada de cultura pop, que mescla Luther Blisset, Cavaleiros Do Zodiaco, Hades e citação bíblica. Sem dúvida a melhor música do Dance em anos.
A segunda metade começa com "Discórdia (Carro Bomba II)", que como o título já sugere, se amarra a canção "Carro Bomba" de "A História Não Tem Fim", mas não musicalmente, mas sim paranóia, algo meio Travis Bickle. Com sonoridade mezzo Black Flag, Nenê Altro grita: "(...)Desligue sua TV e leia 1984 (desconfie dos vermelhos). / Entenda Malatesta, Emma Goldman, Durruti. / Seja alguém verdadeiro, não pise nos outros e comece por você. / Acima de entender, faça. / As rádios mentem: é tudo criado pra você não pensar em nada(...)"
"Garotos Perdidos" - referência ao filme "Lost Boys" (não aos amigos do Peter Pan, por favor) - é talvez a mais pop do cd. Com o slogan "Incendiarei metrópoles" como refrão, relembra a época do "A Valsa De Águas Vivas", tanto em letra como música. "Ferris E O Queimador De Livros", música seguinte, também tem toque cinematográfico, citando "Ferris Bueller's Day Off" (ou como é conhecido aqui no Brasil, "Curtindo A Vida Adoidado"). Esta, típica música de meio de disco do Dance, ganha destaque pela letra, com trechos como "Vou então, Ferris Bueller está solto / e tão certo de que Montag / vem inflamar em quatro cinco um / cada perigo até não sobrar, / pois já não consegue mais estar bem....
"Um Sonâmbulo Em Seu Aquário" é (talvez) a música mais pessoal/confessional do álbum, de letra instrospectiva e instrumental diferente, algo mais puxado para o rock alternativo dos anos 90; seguindo com "Minha Lista De Pessoas Que Se Cansaram De Mim", música mais melancólica do cd.
Para fechar o álbum, como (quase) de praxe, uma música pra cima, "Repetindo Frases E Rimas", novamente com várias auto-referências, algo (bem menos escancarado, claro) como o Engenheiros Do Hawaii fizeram por toda sua carreira - principalmente no disco "Várias Variaveis". Nesta música, Nenê canta: Gosto de te ver sorrir. / Eu já te disse no outro disco. / Mas teu sorriso tem que ser teu. / É muito mais bonito, já conheço o meu.; e encerra; "E se pensar em mim / é só tocar meus discos / e me dar uma ligada".
Uma banda com a bagagem histórica e cultural como o Dance Of Days pode se dar ao luxo de fazer isso, um disco de afronta, e também de esperança, passando a limpo o que já fez, e sem ser professoral, ensinar aos mais novos como era (é?) a cena e como a queremos. E no meio de tantas referências passadas, tenho que usar uma pra terminar: "Sometimes I feel we must start again(..)". Então que demos esta nova partida, de preto, em luto, andando por esta cena morta que vamos reconstruir."(zonapunk)

Link para download: http://www.mediafire.com/?6w0v40l5ckc6q73

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